Um vilarejo, a menina e o fotógrafo
Por Natália Noronha
O vilarejo de Armero estava sob entulhos,
água e restos de casas. O vulcão Nevado del Ruiz explodiu e arrasou um povoado
inteiro, deixando o local em total desordem e a população em choque e
desespero. Entre as vítimas, estava Omayra Sanchez, garotinha falante e simpática
que havia sido presa por concreto, restos de casas e partes dos corpos de seus
próprios familiares. Omayra, os muitos outros moradores presos e as casas ao chão construíram
um cenário sombrio e assustador. O vilarejo era caos, gritos por ajuda e muita
bagunça.
Diante de tanto tumulto, entretanto, a
garotinha presa aos entulhos não se calou. Conversava com os socorristas,
jornalistas e fotógrafos ao seu redor. Dentre as amizades que fez sob
a água gelada, estava o francês Frank Fournier. Segundo um relato do fotógrafo,
ao se aproximar da garota para tirar algumas fotos, uma onda de impotência o
consumiu inteiro: ele não podia fazer nada. Pensou que a única coisa a se fazer era
descrever numa imagem a dignidade e a coragem com que Omayra enfrentou seus
últimos minutos de vida.
As autoridades trataram o caso com
enorme descaso e irresponsabilidade; não atenderam aos pedidos de uma bomba que
sugasse a água para retirar a menina Omayra do lamaçal. Frustrados com a falta
de providência por parte do governo, os socorristas desistiram de fazer apelos
e passaram o restante do tempo à disposição da garota, confortando-a e rezando
com ela. Após 60 horas presa, a menina Omayra morreu.
A foto foi um registro que levantou algumas
questões importantes e promoveu uma reflexão sobre as utilidades sociais e
políticas que o fotojornalismo compreende. Fournier, através da captura,
conseguiu chamar a atenção da sociedade para o caso, levantando ajudas
financeiras para os refugiados e fazendo com que a população questionasse a postura
do governo diante da situação. Outro ponto importante foi o papel de Frank
enquanto ponte intermediadora entre Omayra e a sociedade. O retrato da coragem
com que a menina enfrentou o lodo gelado comoveu as pessoas e promoveu
reflexões. No mesmo ano da tragédia, o registro ganhou o prêmio de foto do ano
pelo World Press Photo.
Após estudar todo o contexto e
história da foto, fiquei certa de que o fotojornalista não faz apenas capturas
de imagens. Com uma foto apenas, ele é capaz de levantar questões, fazer ligações entre pessoas e proporcionar reflexões.
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