sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Clica, foca!

Sobre crises e rugas que falam

Por Natália Noronha


A crise dos anos 30 deixou muita gente desamparada. O colapso econômico dos EUA logo se fez colapso mundial, visto que os americanos eram os principais financiadores dos europeus. A queda das ações e a consequente falência das empresas deixaram pais desempregados e famílias sem rumo. Mas falo de um sem-rumo bem literal, bem real; um sem-rumo de ficar ao pé da estrada, numa barraca, com sete filhos e incontáveis desesperanças... Sem destino e com uma ruma de meninos.
A mãe, Florence Owens Thompson, e sua família – a ruma de meninos e o marido - viajavam pelas estradas da Califórnia na esperança de encontrar emprego. No meio do caminho, duas peças do carro quebraram, e Jim, marido de Florence, e mais dois dos filhos do casal foram a uma cidade próxima em busca de conserto. Florence e as crianças, enquanto esperavam, providenciaram uma barraquinha e montaram uma espécie de acampamento temporário.
A cena havia sido montada para Dorothea Lange. A fotógrafa americana, durante um mês, viajou por todo o estado da Califórnia a fim de documentar o trabalho agrícola de imigrantes. Ao localizar Florence e as crianças sob o mini-acampamento, fez uma série de fotos da cena. Com as fotos, Dorothea conseguiu a projeção da crise no semblante cansado de Florence, assim como a tradução da desordem em que se encontrava o país na bagunça da barraquinha. Olha aí:








Em 1960, Lange deu o seguinte depoimento sobre o episódio:

“Eu vi a mãe desesperada e faminta e me aproximei dela, como se fôssemos ímãs. Não lembro como expliquei minha presença ou a minha câmera para ela, mas lembro de que ela não me perguntou nada. […] Ela pareceu saber que minhas fotos poderiam ajudá-la, então ela me ajudou. Havia um pouco de igualdade ali.”

Você acha que a proximidade entre Dorothea e Florence foi suficiente para traduzir a crise da época? Não falo de distância física, mas de "distância fotográfica". O quão bom foi o clique dirá o quão próximos estão o fotógrafo e o fotografado. Quanto mais a fotografia falar, mas próximos estarão. E aí?

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