sábado, 23 de fevereiro de 2013

Clica, foca!


Por Natália Noronha

Quando comecei a me interessar por fotojornalismo, a primeira personalidade da área que conheci foi João Bittar. Estava procurando conteúdo para um seminário da faculdade que tratava do assunto, e um dos primeiros resultados da pesquisa foi um vídeo bem interessante. Foi com o vídeo que eu comecei a entender o que penetrava a face superficial da área, o que ia além de câmera, de fotógrafo e de fotografado apenas.
No início do vídeo, João Bittar cita a frase “Se sua foto não está boa o bastante, é porque você não está próximo o bastante”, dita por Robert Capa, fotógrafo húngaro. Quem lê o Clica, foca! sabe que eu já usei essa citação por aqui. E quando a usei, disse que, com a frase, Capa falava sobre uma distância não-física, sobre uma distância que não se importava com metros e centímetros. Era uma distância de envolvimento. Quanto mais o fotógrafo se envolver com a foto – e no sentido de “foto” cabe pessoas, cenário, ambiente, contexto histórico, luz, momento, ângulo -, melhor será o resultado final.
No vídeo, Bittar ainda fala um pouco sobre a disciplina de foto, relembra grandes nomes da área e apresenta o Curso João Bittar de fotografia, expondo trabalhos de alunos e explicando como é feito o processo da escolha e execução de pautas. A conversa é bem descontraída – dá pra flagrar João mexendo num cigarro – e nenhum pouco monótona para quem se interessa.
João Bittar morreu em 2011, vítima de um infarto fulminante. Fotografava desde os 17 e fez fotos para a VEJA, IstoÉ, Folha de São Paulo, entre outros.

Segue o vídeo:


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Clica, foca!


Hoje a gente dá tchauzinho pra nossa micro-série-sem-nome que começamos há três semanas. Passeamos por três porções do fotojornalismo (que você pode conferir aqui, aqui e aqui) e hoje desembarcamos em nosso último destino: o esporte.


Parte III - Esporte

 Por Natália Noronha

Há os que não gostam de praticar atividades físicas, há os que não estão nem aí para quem ganhou o campeonato brasileiro de futebol, mas admita comigo: quem não curte assistir às Olimpíadas? Há uma satisfação divertida em ver atletas defendendo suas pátrias. Mesmo que você seja daqueles que odiavam fazer educação física na escola, vibra e se empolga, porque todo aquele movimento de pessoas buscando a mesma coisa desperta na gente todas aquelas noções de garra, força, esperança, mesmo que a gente não perceba. (Eu sei, você não me engana; sua mente faz torcida, grita “vai!” - é abafada pelo corpo estático mas descoberta pelos olhos atentos à tevê).

E dentro do esporte não faltam momentos dignos de fotografia. Embora cronometrado e sistematizado em regras, tudo é muito espontâneo: o choro da vitória, a dor de uma contusão, a frustração de uma perda, que podem ser muito bem traduzidos, dependendo do fotógrafo, momento, luz, distância ou ângulo. Ângulo. Bom ângulo. Foi o que definiu a foto de hoje.



    Foto em 13 de setembro de 2012. Dados da câmera: Canon EOS-1D X, lentes 400mm, f2.8, 1/1600, ISO 2000

Andrew Winning, fotógrafo britânico, fazia cliques das competições de atletismo das Paralimpíadas de Londres, num local preparado exclusivamente para que os fotógrafos obtivessem o melhor ângulo para suas imagens. Ficava bem na “boca” da pista de corrida.

“Durante uma pausa nas competições, eu percebi que tinha uma boa visão dos atletas do salto em distância, na parte de dentro da pista.”
Winning à Reuters, agência britânica de notícias

Devido às diferenças físicas dos corredores, cada um tinha suas próprias técnicas de salto. E Lukasz Mamczarz, atleta polonês, foi o exemplo mais impressionante para Andrew. Ele tinha uma perna amputada, e mesmo apoiado na perna direita apenas, conseguia grandes saltos. Corria com as duas, mas abandonava a esquerda para saltar apoiando-se na direta. Após finalizar o salto, voltava para recolher a prótese.

“Eu adorei a maneira com que esse simples gesto resumia toda a capacidade de Lukasz de passar pelas dificuldades e fazer algo notável. Também adorei como superava os preconceitos das pessoas sobre o que ele poderia fazer com apenas uma perna boa.”

No final do depoimento à Reuters, Andrew considerou esta uma das melhores imagens das Paralimpíadas e ficou grato por tê-la fotografado.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Clica, foca!


Hoje o Clica, foca! traz a terceira parte da nossa pequena-nova-série [ainda sem nome] de foto. Prometemos a vocês que dividiríamos o campo do fotojornalismo em quatro grupos, e de cada grupo traríamos a história de uma foto. Já passamos pelos Beatles, pelos proletários imigrantes e hoje vamos entrar no meio de uma guerra. Bora ler?

Parte III - Guerra

 Por Natália Noronha

A foto de hoje não teve tanta repercussão quanto as fotografias anteriores, mas decidi adicioná-la à série pela força que tem – e a força de uma foto é o que mais tenho tentado mostrar. No entanto, hoje vou dividir a fala com alguém. Um cara que vai te relatar a foto bem melhor que eu. Você vai ler o relato do próprio autor do registro, Shamil Zhumatov, fotógrafo da agência de notícias britânica Reuters. Dono de uma galeria cuja porção maior de fotos são registros de bombardeios, ataques ou flagrantes de violência, Shamil contou à Reuters a história do clique de hoje. Olha aí:




“Eu fui incorporado a uma equipe de apoio do pelotão dos EUA em uma base pequena de policiais afegãos. Na verdade, é um erro chamar aquilo de base - um edifício feio por trás de uma parede de tijolos crus cheios de marcas de bala. O primeiro dia foi relativamente tranquilo - um pouco de tiroteio que cessou logo à noite. No dia seguinte o mundo desabou: um tiro, uma breve pausa e depois novamente o disparo. Um grupo do nosso pelotão iria mandar bala em volta do prédio a cada 40 minutos para patrulhar a área de onde os tiros foram disparados em nossa direção. Alguns desses grupos de patrulha não davam sorte e acabavam sendo alvejados. Acompanhei algumas patrulhas pela manhã e me senti exausto logo ao meio-dia. Fazia um calor absurdo, cerca de 40 graus. Um tempo depois, um grupo decolou e eu fiquei na base. 
O grupo foi baleado novamente. Tudo ficou assustador. Um tiro, depois outro e rajadas de metralhadora e depois tudo se transformou em um rugido ensurdecedor, sem fim. De repente, uma explosão rugiu. Eu consigo reconhecer uma explosão, e aquela foi das grandes. Quase ao mesmo tempo, eu ouvi alguém gritando pelo rádio: "Nós precisamos de um médico!" O médico que estava com a gente se aprontou e agarrou sua mochila; eu coloquei minha jaqueta e um capacete, alguém pegou uma maca e a gente saiu. Quando chegamos, o primeiro pensamento que passou pela minha cabeça foi: por que diabos a gente precisa de um médico aqui? O cara está morto! Metade do corpo estava deitado no chão, não tinha mais nada debaixo da cintura e ele estava sem roupa. Todo mundo estava ocupado – enquanto alguém nos dava assistência, o médico fazia injeções e outros preparavam a maca. E eles gritavam para o soldado ainda inconsciente: "Espere! Tudo vai ficar bem!" Eu perguntei se eu poderia ajudar em alguma coisa. Só me pediram pra afastar uma metralhadora do corpo. Dei uma garrafa de água pr’um soldado ferido na perna. O cara bebeu e furiosamente jogou a garrafa fora. E no meio de tudo isso eu estava fotografando.
 Tentei ser o mais discreto que pude. O soldado gravemente ferido foi colocado na maca e todo mundo se preparou pra correr. Um sargento atirou seu rifle em minhas costas pra me avisar que levasse uma mina. Aí a gente correu. Os braços do soldado estavam caídos pra fora da maca. E enquanto a gente atravessava um lamaçal, alguém gritou pra mim: "Coloque os braços dele na maca!” Peguei a mão esquerda do soldado ferido – estava quente, mas estranhamente leve, como se fosse oca - deitei sua mão em cima de seu peito, mas caiu de novo.
 Um helicóptero chegou de Kandahar apenas 10 minutos após a explosão. (As ambulâncias da nossa cidade não são tão rápidas assim!) A placa com uma cruz vermelha fez um círculo em cima da gente e pousou em um campo inundado por uma nuvem roxa de fumaça. Colocaram o soldado no helicóptero, gritaram alguma coisa para os médicos, aplicaram outra injeção e o helicóptero foi embora. A gente permaneceu no campo em um silêncio gritante. Foi aí que eu processei as coisas – fiquei com falta de ar e me senti mal. Voltamos, finalmente. Devolvi a mina e o rifle que jogaram em mim. Tinha uns meninos chorando; fui fazendo alguns cliques, tudo sem a menor pressa.
Decidiram enviar os soldados levemente feridos para uma base maior em um veículo blindado. Eu disse que iria também. Um soldado bem jovem desmaiou no caminho, e prontamente lhe aplicaram morfina. Chegamos ao hospital e ficamos esperando. Fiquei sentado perto da porta na tentativa de impedir a saída. O médico me pediu para ajudá-lo, e desajeitadamente eu segurei a mochila dele, o meu saco de dormir e uma metralhadora de um soldado ferido. Eu juntei tudo e coloquei no chão, bem pertinho da gente. Só minhas câmeras estavam comigo. A gente colocou o soldado que tinha desmaiado numa maca para levá-lo ao atendimento. Apenas os médicos se mantiveram frios naquela situação. Assim que a gente preparou a maca, uma médica disse "Vocês já podem ir embora, nós temos que trabalhar". Isso meio que acalmou a gente. 
Aquele soldado gravemente ferido sobreviveu. Teve os dedos amputados e inúmeros ferimentos na área da pélvis. Tinha 20 anos, um ano mais novo do que minha filha Alinka. 
Mais tarde fui editar as fotos e acertar contas com a assessoria de imprensa do exército. Porque se um soldado é ferido e fotografado durante o combate, já conta como invasão de privacidade, e você tem que assinar um acordo em escrito para publicar as fotos. Eles fazem bem direitinho – o soldado está vivo, então o soldado tem direitos. Em princípio, eles estão certíssimos. É que a gente vive num mundo diferente. Dois soldados que tinham saído nas minhas fotos assinaram prontamente os papéis. A equipe me agradeceu pela companhia e pelo que eu tinha feito por eles. Algumas fotos nunca serão publicadas. E eu ficaria grato se não as tivesse tirado, mas aconteceu. 
Disseram que eu tinha que ir pra casa e me mandaram para uma base maior onde estaria o helicóptero que me levaria. No meio do caminho, um comboio passou pela construção na delegacia de polícia afegã para deixar comida e água lá. Ironicamente, quando a gente chegou lá, os tiros começaram. Fotografei e tudo. Pegamos a estrada e ouvimos na rádio que um atirador do exército tinha finalmente pego quem estava atirando do outro lado. Conheço a criatura: um sargento pequeno e magro. Me disseram que ele não vê bem pelo olho esquerdo porque um fragmento de bala ficou lá, mas seu olho direito está ótimo. Capturaram o inimigo: o 11º que o atirador do exército conseguiu capturar. E aí eu fiquei aliviado. Um homem morreu, mas fiquei aliviado. Talvez a guerra seja coisa de gente nova. Vou é pra casa.“


Na foto: soldados do exército americano se consolam após saberem que um colega se ferira gravemente. Afeganistão, 12 de junho de 2012.
Observe a foto. Enquanto os soldados se abraçam, outro descansa atrás. Sua expressão corporal denuncia cansaço e frustração.

(É possível que vocês encontrem alguma incoerência ou falta de ligação entre as orações. Isso porque o texto original está em inglês e precisamos traduzi-lo. Então desde já pedimos desculpas por qualquer falha.)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Fala, foca! na recepção dos novos focas da UFRN

Por Alice Andrade


   O Centro Acadêmico Berilo Wanderley, do curso de Comunicação Social da UFRN, promoveu eventos de recepção aos ingressantes de 2013.1 das três habilitações - Jornalismo, Radialismo e Publicidade e Propaganda - durante primeira semana letiva. No último dia de programações (07), foi a vez dos projetos de extensão serem apresentados aos calouros. Como bons focas que somos, nós, do Fala, foca! também estávamos lá para falar um pouco sobre  o blog
   Idealizador e chefe carrasco, Matheus Soares contou aos novos focas e aos demais comunicadores presentes que o blog surgiu a partir do interesse de se ter um espaço destinado totalmente aos estudantes de jornalismo e aos próprios jornalistas, de modo a sanar dúvidas e trazer curiosidades da nossa área. Ferreira Neto e Natália Noronha compartilharam algumas de suas experiências no blog, ressaltando a importância do espaço para o contato multidisciplinar dentro do universo jornalístico.
   O convite, portanto, está aberto a todos os focas que quiserem escrever a respeito de suas experiências e práticas acadêmicas ou sobre temas interessantes do jornalismo. Basta falar conosco, pegar o bloquinho, a caneta, e aproveitar sua vida de foca. 




quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Especial Watergate: parte 3




Por Matheus Soares
   A administração de Nixon tentou amenizar o caso, alegando pressão demasiada da mídia contra o presidente. Porém, as diversas acusações que circulavam na imprensa foram parar no Tribunal, complicando a situação política do governante americano.
   Em junho de 1973, Dean Alleges, o primeiro assessor da Casa Branca quebrou o silêncio e depôs sobre o caso. Ele alegou que o presidente estava profundamente envolvido e que tinha conhecimento sobre as tentativas de abafar o escândalo. No mês seguinte, um outro funcionário do governo afirmou a existência de um sistema de gravação secreto na sala de Nixon, o qual registrava as ligações e conversas do presidente.
   Após longas negociações, a Casa Branca concordou em liberar apenas os resumos das gravações. Descobriu-se, no entanto, que uma delas fora rasurada. Nixon já não detinha a mesma credibilidade. Mesmo assim, o presidente não cedia às acusações. Defendia-se dizendo que tudo não passava de uma conspiração e que não tinha conhecimento sobre o escândalo.
   O ano de 1974 já se estendia, quando o próprio governante liberou uma transcrição de 1.200 páginas, contendo as conversas dele com os assessores. Nem seus advogados conseguiram defendê-lo disso. Mais tarde também seriam divulgadas outras gravações.
   Em julho do mesmo ano foi aprovado o Impeachment do presidente americano. Nixon era culpado.
   No oitavo dia de agosto, os norte-americanos acompanharam a transmissão televisionada do discurso de renuncia do presidente.
“Eu lamento profundamente qualquer injúria que possa ter feito no curso dos eventos que levaram a essa decisão”
   Essa foi a lastimada fala de Nixon, o primeiro presidente a renunciar o cargo na história dos Estados Unidos

O QUE RESTOU AFINAL?

   Após todo o escândalo e julgamento do caso Watergate, Nixon ensinou aos americanos que um presidente também comete erros e que deve respeitar a justiça do país como qualquer outro cidadão. O congresso dos EUA passou a regular as atividades da CIA e do FBI, evitando abusos de poder das agências de segurança.
   E para o jornalismo, a história dos dois repórteres do Washington Post serviu de motivação para os diversos alunos de comunicação social da época. Muitos acreditam que o Watergate inaugurou a época de ouro do jornalismo investigativo.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

#curiosidade

   Em 1931, as Folhas (jornais que se tornariam A Folha de SP) aceitavam o pagamento das assinaturas em sacas de café.


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

RECEPÇÃO DOS CALOUROS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

    Iniciou-se nesta terça feira, dia 5 de fevereiro a recepção dos calouros de comunicação social da UFRN. O evento, que é organizado pelo centro acadêmico Berilo Wanderley, contará com diversas palestras, oficinas, mesas redondas e mostras de vídeos com temas sobre comunicação em geral.  Confira abaixo como foi o primeiro dia da recepção:


   O evento se estenderá até o dia 7, e a expectativa do Centro Acadêmico é de atingir o máximo de calouros possíveis no que diz respeito a conhecer o curso que irão estudar pelos próximos anos. 

Especial Watergate: Parte 2




Por Matheus Soares
   “A fonte anônima mais famosa da história americana”. Assim foi denominado, pelo jornal The New York Times, o “Garganta profunda”. Foi por meio dele que os dois jornalistas do Washington Post guiavam as investigações do escândalo Watergate.
   Carl Woodward geralmente o encontrava em um estacionamento subterrâneo, apenas para confirmar ou negar os dados obtidos. O jornalista prometera contar seu nome só depois que a fonte morresse.
   Porém, em 2005, o ex-vice-presidente do FBI, William Mark Felt, revelou ser o “Garganta profunda”. O mistério chegaria ao fim 33 anos depois do escândalo, por um artigo escrito pelo advogado da família Felt para a revista Vanity Fair.
   Felt era vice-presidente do FBI quando estourou o escândalo do Watergate. Ele liderou as investigações do caso e, dessa forma, sabia que Nixon tentava abafar o escândalo. “Felt acreditava que estava protegendo a agência (FBI) ao encontrar uma maneira clandestina de vazar informações dos interrogatórios e arquivos do FBI para o público, a fim de construir uma pressão pública e política para que Nixon e sua equipe fossem responsabilizados”, disse Woodward.
   No entanto, Nixon deixou de nomear Felt para o cargo de presidência da agência, para colocar alguém de fora do FBI, em maio de 1972. Há quem diga que isso teria motivado o agente a contribuir com os jornalistas do Post, mesmo o próprio tendo negado a hipótese.

WOODWARD E FELT

   Marc Woodward conheceu Felt em uma sala de espera, na Casa Branca, quando o jornalista trabalhava na marinha americana. A partir disso, o repórter mantinha contato com o agente, o qual já servia de fonte anônima antes mesmo do caso Watergate estourar. No início, Woodward o chamava de MF, que, além de serem as iniciais de Mark Felt, significa My Friend (Meu amigo).
   Logo após o esclarecimento público de Felt, em 2005, Woordward escreveu um artigo para o Washington Post tratando sua relação com o agente do FBI e como tudo começou. "Eu estava esperando e por um momento um homem alto e com um perfeito penteado de cabelos grizalhos sentou ao meu lado", escreveu o jornalista. No entanto, três anos depois do anúncio, Mark Felt falece.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Especial Watergate: parte 1



Por Matheus Soares
   Na madrugada do dia 17 de junho de 1972, cinco homens invadiram o sexto andar do complexo Watergate, em Washington, para instalar escutas ilegais no Sede do Comitê Democrata.
   Fora descoberto, depois, que um dos meliantes fazia parte do grupo do presidente republicano Richard Nixon, e que, em pleno período de campanha eleitoral, as escutas serviriam para espionar os planos do partido adversário.
   Enquanto Nixon seguia em seu segundo mandato, as investigações do caso apontavam uma ação do governo dele para abafar o ocorrido.  O Congresso americano, afinal, entra com uma ação de Impeachment e consegue as escutas do governante sobre o caso. Dessa forma, é comprovada a atuação de Richard Nixon no escândalo Watergate.
   Após dois anos, um mês e vinte e dois dias da primeira manchete do crime, um presidente renunciou seu cargo pela primeira vez na história dos Estados Unidos. Nixon sai do seu posto acusado de tentar obstruir a Justiça e abusar do seu poder. 


   Na manhã seguinte ao crime, 18 de junho, o Washington Post anuncia em sua primeira capa: “Cinco homens são presos tentando colocar microfones na Sede do Comitê Democrata Nacional”. Nenhuma suspeita era levantada sobre o caso.
   Porém, dois repórteres do jornal, que estavam encarregados de cobrir o ocorrido, perceberam um furo jornalístico em potencial e foram além. Bob Woodward e Carl Bernstein trabalharam juntos para investigar o episódio Watergate e conseguiram, com exclusividade, provas importantes contra o presidente americano.
   No dia 19, por exemplo, soube-se que um dos presos era do comitê de Nixon. Tempo depois Bernstein descobriu um cheque de 25 mil dólares, que fora depositado na conta de um dos investigados.  Além dos trabalhos investigativos, os dois jornalistas tinham uma fonte secreta, pela qual conseguiam informações importantes. O Garganta Profunda.
   Enquanto isso, os outros jornais esqueciam a história, e Nixon conseguiu se reeleger em 1973. Frente às ameaças e denúncias do Washington Post, a Casa Branca defendia-se considerando tendenciosa a cobertura do jornal.
   Ainda no ano de 73, os dois jornalistas ganharam o prêmio Pulitzer, maior premiação do jornalismo americano. Após o escândalo do Watergate, escreveram juntos dois livros sobre o caso: “Todos os homens do presidente” e “Os dias finais”.