segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Velhos jornalistas

Por Jean Moura
    Os velhos são os melhores. A experiência de vida, a sabedoria nas palavras, a tranquilidade nas ações, a perspicácia no olhar e o controle de si mesmo são algumas das características dos muitos jornalistas que hoje não mais exercem a tão excitante profissão das palavras: o Jornalismo.
   À base de um bom café, velhos jornalistas ficavam acordados a escrever e a reescrever por longas noites frias e solitárias, textos para seus Jornais, tendo seus olhos a se fecharem, involuntariamente, uma vez ou outra, pelo cansaço do sono. Mesmo assim, amavam o que faziam. Tudo por amor àquele antigo Jornalismo de outrora.
   Para muitos desses amantes, o Jornal era um tipo de porta que se abria para o mundo, pois era ali que tudo se mostrava claro: Seus pensamentos, suas visões de mundo, suas parcialidades, seus anseios e seus sonhos.
   Quem escreve, escreve por amor. Há quem escreva por dinheiro, mas digo que esses não valem a caneta que usam. Ser jornalista é fazer valer a pena cada tinta de caneta que se gasta para escrever. Um amor que não se podia medir, nem tão pouco imaginar, esse era amor real de quem fazia o velho Jornalismo.
   Ser jornalista é bem mais do que ter em mãos caneta e papel. Além dessas coisas, é preciso ter nos olhos a sensibilidade de reconhecer o mundo que lhe cerca, ser justo e ter a consciência que as palavras constroem o mundo, mas que também podem destruir em um piscar de olhos.
   Jornalismo é: Arte das palavras. Jornalista é: Artista que usa as palavras para transformar o mundo. 
   Para ser artista é preciso possuir uma alma passiva, para não se corromper com as dores e os sofrimentos dos homens, mas é necessária também de uma alma agressiva, sedenta por verdades que se escondem nas esquinas das farsas da sociedade. 
   O Jornalismo que conhecemos hoje não surgiu do nada, ele tem uma vida e uma história, uma bela história de amor. Amor este que não está nas histórias de príncipes encantados, castelos ou princesas, não. Mas de um amor que surge e se ergue sem esperar futuras recompensas gananciosas que enchem os olhos humanos, como o dinheiro, os status e a fama. Dedicação, paciência, foco, decisão, autonomia e imposição são regras primordiais para se chegar pelo menos a um amor essencial pelo surpreendente mundo do Jornalismo.
   Um leve amor sutil que desabrochava- se sem perceber, fora a razão que fez no passado (E creio que ainda faz nos dias de hoje) despertar tão belas virtudes àqueles que amaram a arte de escrever. O amor que levara muitos a escrever nas madrugadas solitárias, sem perceber que as horas estavam a voar depressa, sem sombras de dúvidas, foi o maior segredo do sucesso de todos esses Velhos Jornalistas. 
   Só os longos anos são capazes de dar uma experiência e tranquilidade profissional ao jornalista. Por isso, é preciso se empenhar para que um dia no futuro seu reflexo no espelho torne- se a igual de um bom e Velho Jornalista. Neste caso quanto mais velho melhor, pois, a velhice não é uma questão de idade, e sim de espírito.
   O quão duro não deve ser para esses antigos mestres das palavras não poderem mais desfrutar dos prazeres que as palavras oferecem? As únicas palavras capazes de estancar a dor que sentem e de exprimir fisicamente seus pensamentos seriam essas: 


“Ah, que saudades tenho da aurora da minha vida, Da minha infância querida que os anos não trazem mais. Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras, à sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais”. (Casimiro de Abreu).

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