quinta-feira, 8 de novembro de 2012

FOTO DA SEMANA

         A cada semana faremos uma seleção das fotos mais prestigiadas do fotojornalismo. O objetivo da coluna é trazer o contexto e a história em que o registro foi inserido. A escolhida dessa semana foi "A agonia de Omayra", uma das capturas mais famosas do mundo, registrada por Frank Fournier, fotógrafo francês. A foto retratou o sofrimento de uma menina de 13 anos vítima da erupção de um vulcão há anos adormecido, na Colômbia, em 1985. Saiba um pouco mais da história do registro e o que ele representou para a sociedade e para o fotojornalismo.

Um vilarejo, a menina e o fotógrafo




Por Natália Noronha

O vilarejo de Armero estava sob entulhos, água e restos de casas. O vulcão Nevado del Ruiz explodiu e arrasou um povoado inteiro, deixando o local em total desordem e a população em choque e desespero. Entre as vítimas, estava Omayra Sanchez, garotinha falante e simpática que havia sido presa por concreto, restos de casas e partes dos corpos de seus próprios familiares. Omayra, os muitos outros moradores presos e as casas ao chão construíram um cenário sombrio e assustador. O vilarejo era caos, gritos por ajuda e muita bagunça.
Diante de tanto tumulto, entretanto, a garotinha presa aos entulhos não se calou. Conversava com os socorristas, jornalistas e fotógrafos ao seu redor. Dentre as amizades que fez sob a água gelada, estava o francês Frank Fournier. Segundo um relato do fotógrafo, ao se aproximar da garota para tirar algumas fotos, uma onda de impotência o consumiu inteiro: ele não podia fazer nada. Pensou que a única coisa a se fazer era descrever numa imagem a dignidade e a coragem com que Omayra enfrentou seus últimos minutos de vida.
As autoridades trataram o caso com enorme descaso e irresponsabilidade; não atenderam aos pedidos de uma bomba que sugasse a água para retirar a menina Omayra do lamaçal. Frustrados com a falta de providência por parte do governo, os socorristas desistiram de fazer apelos e passaram o restante do tempo à disposição da garota, confortando-a e rezando com ela. Após 60 horas presa, a menina Omayra morreu.
 A foto foi um registro que levantou algumas questões importantes e promoveu uma reflexão sobre as utilidades sociais e políticas que o fotojornalismo compreende. Fournier, através da captura, conseguiu chamar a atenção da sociedade para o caso, levantando ajudas financeiras para os refugiados e fazendo com que a população questionasse a postura do governo diante da situação. Outro ponto importante foi o papel de Frank enquanto ponte intermediadora entre Omayra e a sociedade. O retrato da coragem com que a menina enfrentou o lodo gelado comoveu as pessoas e promoveu reflexões. No mesmo ano da tragédia, o registro ganhou o prêmio de foto do ano pelo World Press Photo.
Após estudar todo o contexto e história da foto, fiquei certa de que o fotojornalista não faz apenas capturas de imagens. Com uma foto apenas, ele é capaz de levantar questões, fazer ligações entre pessoas e proporcionar reflexões.

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